Uma
trajetória em modificAção
“O importante não é o que fizeram de nós, mas o que
vamos fazer daquilo que fizeram de nós”.
(Jean Paul Sartre – O ser e o nada)
Fazer um relato reflexivo significa que
se viveu, experimentou, errou, acertou, (des)construiu, balançou estruturas... Pressupõe que algo saiu da sua zona de
conforto e provocou mudança, que houve um tempo decorrido e neste, as consequências
de um fazer. Filosofias à parte, inicio meu relato reflexivo, acerca do curso
“Leitura e Escrita em Contexto Digital”, do Programa “Práticas de leitura e
Escrita na Contemporaneidade” e que representou para mim mais uma etapa da
minha trajetória de formação humana e
profissional, em constante modificação:
Confesso que andava, e ando desanimada
com os atuais cursos de gestão, oferecidos pela SEE para quem exerce as funções
de administração e supervisão escolares, como é o meu caso. Tudo muito
repetitivo, com visão extremamente empresarial à lógica de mercado, como se as
escolas pudessem ser geridas feito empresas, as pessoas fossem “coisas” e a
exigência de produtividade máxima em condições, muitas vezes, mínimas é o que
importa.
Assim, quando surgiu a oportunidade de
participar do presente curso, não tive dúvidas. Saí bastante empolgada da videoconferência
de lançamento do mesmo, haja vista os esclarecimentos sobre o novo formato e a
flexibilidade. Fiquei atenta ao período
de inscrição e muito contente quando vi meu nome na lista de contemplados. Penso
que é nesse tipo de formação que está todo o sentido do que se pretende
desenvolver na escola, tanto no aspecto administrativo quanto no pedagógico. Desenvolver
as capacidades de leitura e escrita é o que vai melhorar a qualidade de nossas
escolas. O resto é preciosismo e palpite de economistas metidos a educadores!
Lembrando de todas as minhas ações desde
antes do início do curso, em março, até agora, em seu término, vejo quanto mudei!
Escolhi um caderno de capa dura, com a ilustração de um alpinista em plena
atividade, pois tinha tudo a ver com o meu estado de espírito para o momento.
Fazer qualquer curso já requer uma boa dose de disciplina, determinação,
responsabilidade, e sendo a distância, tudo isso aumenta. Comecei o caderno
colando o regulamento do curso, orientações sobre o AVA- EFAP, os primeiros
textos sobre leitura, entre outros. Quanto desperdício! Não, é claro, pelo
conteúdo das folhas, mas porque ainda não incorporei a prática contemporânea de
economizar papel, haja vista que tudo está no ambiente virtual e se deve
imprimir apenas o que é absolutamente necessário. Do primeiro para o segundo
módulo, percebi que não precisava de um caderno que, neste caso, representava
para mim algo estático, símbolo de uma prática cristalizada de fazer anotações,
as quais muitas vezes nem revisito. A minha
geração está na contramão da história e as mudanças culturais são difíceis.
Reporto-me a esses detalhes para justificar que os conceitos de letramento,
alfabetização, texto, leitura, gêneros textuais, compreensão, interpretação e
produção de textos só ganham “vida” quando os levamos para todos os tempos-espaços de nossa atuação como
seres pensantes, seja no mundo real (do
caderno) ou virtual (da tela do computador). Digo isso, porque tive de desenvolver
capacidades específicas de leitura e produção de texto para interagir nos
fóruns (meio virtual), pôr em xeque todo o conhecimento acumulado e buscar
outros, abrir as “gavetinhas da cognição” e escolher as relações pertinentes, como
a me perguntar: “com que roupa eu vou?” Isto fica ou não adequado para publicar?
Há clareza? Estou ou não tangenciando o tema? Tantas dúvidas... No fórum,
fica-se muito exposto, mas isso é positivo, na medida em que contribui para se desenvolver
outras capacidades: resolver problemas, fazer síntese, tirar conclusões,
confrontar ideias e alargar a visão de mundo, a partir dos comentários dos
colegas, pois sempre há alguém que pensou algo que ninguém havia pensado. O
fórum serve também para uma autoavaliação.
Eu
tinha certa rejeição a fóruns virtuais, porque é estranho ficar “conversando”
com pessoas que você nunca viu. Por outro lado, uso o e-mail com bastante frequência,
principalmente no exercício profissional e isso já não me incomoda mais. Tudo é
uma questão de prática e reflexão sobre essa prática. Confesso que se eu não tivesse
levado um dolorido “C” logo no primeiro fórum, jamais teria feito qualquer
coisa para me superar, como eu fiz. Interagir virou uma questão de honra!
E
como não poderia faltar o mestre Drummond, eis que:
“No meio do percurso tinha um blog
tinha um blog
no meio do percurso
tinha um blog...
nunca vou me
esquecer desse objeto virtual contemporâneo
em minhas aventuras pedagógicas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do percurso tinha um
blog.”
Ah, o blog! Posso dizer que desde a primeira
imagem mental até a sua realização, o blog foi, para mim, o maior desafio até
aqui. Já tinha ouvido falar dessa ferramenta, já tinha até visitado alguns
sites, com sobrenome “blogspot”, mas nem desconfiava de longe que isso era
blog, tampouco como era feito. À medida
que o módulo 3 avançava, bateu um
desespero: “não vamos dar conta desse blog!”
Mas, a necessidade é a mola propulsora para sair da inércia. Então,
começou uma batalha no fórum, em busca de informações, trocas entre os colegas,
apoio mútuo, intervenção/ajuda da nossa tutora, que exerceu presença pedagógica
sem dar a resposta pronta. A iniciativa de uns motivou os demais. E o blog
aconteceu! Adorei fazer a crônica, gênero que sempre me despertou atenção e
gosto. Muito prazeroso também foi ler as produções das colegas do mesmo grupo,
bem como as dos colegas dos outros grupos, cujos gêneros textuais eram
diferentes, mas com o mesmo tema. É uma boa situação de aprendizagem para ser
desenvolvida com os nossos alunos. Depois de toda essa aventura pedagógica, descobri-me
viciada nesse tipo de interação, a ponto de sentir um pouco de falta, nesse
último módulo. Fiquei tão “próxima” dos colegas, principalmente do grupo 5, que
até arriscava algumas brincadeiras. Fico imaginando a voz de cada um(a), como
são enquanto pessoas.
Em relação ao conteúdo mais específico
do curso, não tive dificuldades. Letramento, alfabetização, leitura, produção
de textos, compreensão e interpretação são assuntos que nos acompanham no dia a
dia e quanto mais estudos sobre isso, mais conhecimento, domínio e segurança
para falar com propriedade. A diferença está no contexto de abordagem e no
ambiente. É sempre muito apropriado e
produtivo ler e aplicar Magda Soares e Roxane Rojo. Destaco também os vídeos e
depoimentos sobre a experiência com leitura. Muito bom!
Concluo
que, ao final de mais esse percurso, é possível enxergar o processo de
aprendizagem pelo qual passei. Acredito que eu esteja com alguns centímetros a
mais de conhecimento. É um caminho sem volta, ainda bem!
Agradeço
aos colegas de caminhada (incluindo a tutora) por me ajudarem na travessia.
Abraços
e boa sorte a todos!
Fernandópolis,
14 de maio de 2012.
Deise Cristina
Siqueli