Leitura na era digital

Leitura na era digital

terça-feira, 15 de maio de 2012

RELATO REFLEXIVO


Aprender sempre mais

           O curso “Leitura e Escrita em Contexto Digital” contribuiu muito para minha formação profissional, pois possibilitou aberturas ao mundo digital para as minhas aulas de Língua Portuguesa. O Módulo I não encontrei dificuldade no preenchimento de formulários, na edição do perfil, mas quando recebi nota C no fórum, que trágico! Então me dediquei ao máximo e superei nos próximos fóruns. 
          Prazeroso foi o segundo módulo quando tivemos que postar depoimentos de leitura e escrita e relembrar o primeiro contato com livros e a escrita. O gênero textual é uma condição didática para trabalhar com os comportamentos leitores e escritores e essa atividade utilizei nas minhas aulas tornado-as práticas e atraentes. 
          O grande desafio “BLOG”: que tarefa mais árdua! Pois domino um pouco de computador – internet, mas o blog só tenho contato quando preciso de atividades escolares. De início, a construção do blog foi confusa, pensei que não iríamos conseguir, mas com a iniciativa corajosa da colega Célia concretizamos o objetivo proposto pelo curso.
          Enfim, só tenho que agradecer ao meu grupo e à tutora que sempre nos auxiliou nas atividades sugeridas. 

Abraços,

Camila Aparecida da Costa

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Relato Reflexivo



Uma trajetória em modificAção
“O importante não é o que fizeram de nós, mas o que vamos fazer daquilo que fizeram de nós”.
(Jean Paul Sartre – O ser e o nada)

Fazer um relato reflexivo significa que se viveu, experimentou, errou, acertou, (des)construiu, balançou estruturas...  Pressupõe que algo saiu da sua zona de conforto e provocou mudança, que houve um tempo decorrido e neste, as consequências de um fazer. Filosofias à parte, inicio meu relato reflexivo, acerca do curso “Leitura e Escrita em Contexto Digital”, do Programa “Práticas de leitura e Escrita na Contemporaneidade” e que representou para mim mais uma etapa da minha trajetória de formação  humana e profissional, em constante modificação:

Confesso que andava, e ando desanimada com os atuais cursos de gestão, oferecidos pela SEE para quem exerce as funções de administração e supervisão escolares, como é o meu caso. Tudo muito repetitivo, com visão extremamente empresarial à lógica de mercado, como se as escolas pudessem ser geridas feito empresas, as pessoas fossem “coisas” e a exigência de produtividade máxima em condições, muitas vezes, mínimas é o que importa.
Assim, quando surgiu a oportunidade de participar do presente curso, não tive dúvidas. Saí bastante empolgada da videoconferência de lançamento do mesmo, haja vista os esclarecimentos sobre o novo formato e a flexibilidade.  Fiquei atenta ao período de inscrição e muito contente quando vi meu nome na lista de contemplados. Penso que é nesse tipo de formação que está todo o sentido do que se pretende desenvolver na escola, tanto no aspecto administrativo quanto no pedagógico. Desenvolver as capacidades de leitura e escrita é o que vai melhorar a qualidade de nossas escolas. O resto é preciosismo e palpite de economistas metidos a educadores!
Lembrando de todas as minhas ações desde antes do início do curso, em março, até agora, em seu término, vejo quanto mudei! Escolhi um caderno de capa dura, com a ilustração de um alpinista em plena atividade, pois tinha tudo a ver com o meu estado de espírito para o momento. Fazer qualquer curso já requer uma boa dose de disciplina, determinação, responsabilidade, e sendo a distância, tudo isso aumenta. Comecei o caderno colando o regulamento do curso, orientações sobre o AVA- EFAP, os primeiros textos sobre leitura, entre outros. Quanto desperdício! Não, é claro, pelo conteúdo das folhas, mas porque ainda não incorporei a prática contemporânea de economizar papel, haja vista que tudo está no ambiente virtual e se deve imprimir apenas o que é absolutamente necessário. Do primeiro para o segundo módulo, percebi que não precisava de um caderno que, neste caso, representava para mim algo estático, símbolo de uma prática cristalizada de fazer anotações, as quais muitas vezes nem revisito.  A minha geração está na contramão da história e as mudanças culturais são difíceis. Reporto-me a esses detalhes para justificar que os conceitos de letramento, alfabetização, texto, leitura, gêneros textuais, compreensão, interpretação e produção de textos só ganham “vida” quando os levamos para todos os tempos-espaços de nossa atuação como seres pensantes, seja no  mundo real (do caderno) ou virtual (da tela do computador).  Digo isso, porque tive de desenvolver capacidades específicas de leitura e produção de texto para interagir nos fóruns (meio virtual), pôr em xeque todo o conhecimento acumulado e buscar outros, abrir as “gavetinhas da cognição” e escolher as relações pertinentes, como a me perguntar: “com que roupa eu vou?” Isto fica ou não adequado para publicar? Há clareza? Estou ou não tangenciando o tema? Tantas dúvidas... No fórum, fica-se muito exposto, mas isso é positivo, na medida em que contribui para se desenvolver outras capacidades: resolver problemas, fazer síntese, tirar conclusões, confrontar ideias e alargar a visão de mundo, a partir dos comentários dos colegas, pois sempre há alguém que pensou algo que ninguém havia pensado. O fórum serve também para uma autoavaliação.
Eu tinha certa rejeição a fóruns virtuais, porque é estranho ficar “conversando” com pessoas que você nunca viu. Por outro lado, uso o e-mail com bastante frequência, principalmente no exercício profissional e isso já não me incomoda mais. Tudo é uma questão de prática e reflexão sobre essa prática. Confesso que se eu não tivesse levado um dolorido “C” logo no primeiro fórum, jamais teria feito qualquer coisa para me superar, como eu fiz. Interagir virou uma questão de honra!
E como não poderia faltar o mestre Drummond, eis que:

               “No meio do percurso tinha um blog
                tinha um blog no meio do percurso
                tinha um blog...
                nunca vou me esquecer desse objeto virtual contemporâneo
                em minhas aventuras pedagógicas tão fatigadas.
                Nunca me esquecerei que no meio do percurso tinha um blog.”
Ah, o blog! Posso dizer que desde a primeira imagem mental até a sua realização, o blog foi, para mim, o maior desafio até aqui. Já tinha ouvido falar dessa ferramenta, já tinha até visitado alguns sites, com sobrenome “blogspot”, mas nem desconfiava de longe que isso era blog, tampouco como era feito.  À medida que o módulo 3 avançava,  bateu um desespero: “não vamos dar conta desse blog!”  Mas, a necessidade é a mola propulsora para sair da inércia. Então, começou uma batalha no fórum, em busca de informações, trocas entre os colegas, apoio mútuo, intervenção/ajuda da nossa tutora, que exerceu presença pedagógica sem dar a resposta pronta. A iniciativa de uns motivou os demais. E o blog aconteceu! Adorei fazer a crônica, gênero que sempre me despertou atenção e gosto. Muito prazeroso também foi ler as produções das colegas do mesmo grupo, bem como as dos colegas dos outros grupos, cujos gêneros textuais eram diferentes, mas com o mesmo tema. É uma boa situação de aprendizagem para ser desenvolvida com os nossos alunos. Depois de toda essa aventura pedagógica, descobri-me viciada nesse tipo de interação, a ponto de sentir um pouco de falta, nesse último módulo. Fiquei tão “próxima” dos colegas, principalmente do grupo 5, que até arriscava algumas brincadeiras. Fico imaginando a voz de cada um(a), como são enquanto pessoas.

Em relação ao conteúdo mais específico do curso, não tive dificuldades. Letramento, alfabetização, leitura, produção de textos, compreensão e interpretação são assuntos que nos acompanham no dia a dia e quanto mais estudos sobre isso, mais conhecimento, domínio e segurança para falar com propriedade. A diferença está no contexto de abordagem e no ambiente.  É sempre muito apropriado e produtivo ler e aplicar Magda Soares e Roxane Rojo. Destaco também os vídeos e depoimentos sobre a experiência com leitura. Muito bom!

Concluo que, ao final de mais esse percurso, é possível enxergar o processo de aprendizagem pelo qual passei. Acredito que eu esteja com alguns centímetros a mais de conhecimento. É um caminho sem volta, ainda bem!
Agradeço aos colegas de caminhada (incluindo a tutora) por me ajudarem na travessia.
Abraços e boa sorte a todos!

Fernandópolis, 14 de maio de 2012.
Deise Cristina Siqueli




domingo, 13 de maio de 2012

RELATO REFLEXIVO


      No dia 28 de março, dei meus primeiros passos no Curso Leitura e Escrita na Era digital. Durante o desenvolvimento das atividades de interpretação, produção do blog, participação dos fóruns, fui percebendo como se dava o processo da construção do conhecimento objetivado pelo Curso. O uso dos ambientes interativos trouxe uma vivência da qual eu não havia feito uso com os meus alunos, demonstrando que é possível desenvolver atividades de leitura e escrita. A construção do blog exigiu um trabalho de grupo e a colaboração de todos. Nesse sentido, as contribuições da Camila na finalização do blog, a crônica inspiradora da Marli, principalmente para aqueles que não têm o traquejo para escrever esse gênero literário, a participação de todos aqueles que compartilharam as suas angústias e os seus conhecimentos foram muito significativos para mim. Outro aspecto importante foi perceber que o trabalho coletivo independe do espaço, ou seja, ele pode ser local e/ou virtual, o que permite que isso ocorra é a interação entre as pessoas. No módulo quatro, as colocações feitas a partir da questão do Enem, e as reflexões que se seguiram nas afirmações dos colegas de curso foi muito interessante no que se refere ao olhar que cada um tem sobre um determinado tema. Alguns, como eu, defendem o conhecimento prévio e outros apenas a leitura da questão. Mas, o mais importante foi perceber que no primeiro olhar para o exercício, a minha leitura não me permitiu entendê-lo, mas que na medida em que os professores foram dando sentido à leitura da questão, foi mais fácil identificar a resposta. Isso é o que precisa ser feito com os nossos alunos. Também não posso deixar de mencionar a Flávia, nossa tutora, que através das suas orientações e colocações provocativas foram nos instigando a buscar os instrumentos necessários para a conclusão das tarefas. Tal qual ela, o professor tem que aplicar em sala de aula.
       Concluo esse curso, refletindo sobre o que afirma Roxane Royo: “Falar na formação do leitor cidadão é justamente não olhar só uma das faces desta moeda; é permitir a nossos alunos a confiança na possibilidade e as capacidades necessárias ao exercício pleno da compreensão. Portanto, trata-se de nos acercarmos da palavra não de maneira autoritária, colada ao discurso do autor, para repeti-lo “de cor”; mas de maneira internamente persuasiva, isto é, podendo penetrar plasticamente, flexivelmente as palavras do autor, mesclar-nos a elas, fazendo de suas palavras nossas palavras, para adotá-las, contrariá-las, criticá-las, em permanente revisão e réplica”.

Célia Cristina Gonzales de Almeida

segunda-feira, 30 de abril de 2012

QUEM SOMOS


CAMILA APARECIDA DA COSTA - Tambaú-SP 

Sou professora de Língua Portuguesa e Inglês. Moro numa cidade do interior de São Paulo - Tambaú - (cidade religiosa devido ao Padre milagreiro Donizetti que está em fase de beatificação). Adoro lecionar. Faço patchwork quando não estou em sala de aula. Sou solteira e não tenho filhos.


CÉLIA CRISTINA GONZALES DE ALMEIDA - Sorocaba - SP

Sou professora de História, Pedagoga e Pós Graduada em Didática no Ensino Superior. Leciono há 23 anos na rede estadual e já fui designada para assumir a direção de uma escola do Ensino Fundamental. Gosto de trabalhar com o Ensino Médio e já coordenei vários projetos na unidade escolar em que me encontro nesse momento. Acho extremamente importante as possibilidades que a SEE oferece aos professores para aprenderem e usarem esse conhecimento no seu cotidiano escolar.


CLEIDE RODRIGUES PACHECO - Caraguatatuba-SP 

Sou Coordenadora Pedagógica, trabalhei dois anos na Sala de Leitura, esse foi o grande motivo do meu interesse pelo curso. Fiz licenciatura em Letras e estou finalizando Pedagogia, (amo o que faço porque faço o que gosto), ensinar é a minha maior paixão, ainda acredito que a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo. Sou uma pessoa guerreira e muito batalhadora. Gosto de ler nas horas vagas e trocar mensagens no celular. Acredito que tudo na vida faz parte do aprendizado e por isso sei que vou gostar muitooo desse curso e enriquecer meu conhecimento na área da leitura. Bons estudos a todos!!!

DEISE CRISTINA SIQUELI - Fernandópolis-SP 

Sou graduada em Pedagogia e pós-graduada em Gestão Escolar e Comunitária pela Unicamp. Estou na rede pública estadual há 25 anos, dos quais 8 anos na função de supervisora de ensino.





CRÔNICAS


"A crônica parece o gênero mais fácil, e realmente é, para os que não ousam ou não merecem tentar uma existência literária mais duradoura."
(Fernando Sabino - Deixa o Alfredo falar!)


O AMOR BATE À PORTA

           Como de costume, acordei cedo, fui ao banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto. Mas esta manhã algo estranho aconteceu. No banheiro ouvi tocar incessante da campainha, enxuguei-me às pressas e caminhei até a porta, destranquei-a e vi um homem caído na soleira.
          O que fazer? Pois não havia ninguém no corredor, olhei a minha volta e levemente toquei-o e senti que o corpo estava frio e rígido. “Meu Deus! É um cadáver!”.
          Desesperada, corri para o telefone e disquei o número da central da polícia. A atendente me pediu as informações necessárias e tranquilizando-me avisou que a polícia logo chegaria.
          Enquanto isso observei aquele homem de boa aparência estirado ao chão e imaginei o que ele fazia no meu prédio. Os policiais chegaram e revistaram-no. No bolso havia a carteira com documentos pessoais e uma carta.
         Ao lerem a carta, os policiais, comovidos, revelaram que aquele homem estava apaixonado por mim e que seria o momento oportuno para revelar tal paixão, mas com tanta emoção acabou sofrendo um mal súbito.
          “Que tristeza!” – pensei. Não é sempre que o amor bate à porta!

Camila Aparecida da Costa

A SURPRESA

A claridade começava a invadir o quarto de Marcos, o dia prometia um sol escaldante, aliás, era verão e a temperatura já no período beirava os trinta graus. Acordar cedo era a rotina da maioria das pessoas naquele prédio.  O barulho dos carros, o agito da cidade grande, o vai e vem das pessoas, já indicava que o dia já começara.
Com uma vontade louca de continuar na cama, Marcos consulta o relógio da cabeceira e levanta-se rapidamente. Vai ao banheiro, escova os dentes e lava o rosto. Surpreso ouve a campanhia e enxuga-se às pressas. Caminha até a porta, destranca a fechadura e abre-a, assustado vê um homem caído na soleira, corre o olhar em torno e constata que não há ninguém mais no corredor.
Abaixa- se e toca o homem com os dedos, sente que o corpo está frio e rígido. Percebe que ele está morto e pelo celular disca o número da central da polícia. Enquanto eles não chegam, Marcos fica intrigado com o cadáver. De onde surgiu? Quem será a pessoa ali caída? E, porque ali? E se polícia pensar que ele tem alguma relação com a vítima?
Eram pensamentos confusos, curiosos e medrosos ao mesmo tempo. De repente o toque da sirene avisava que os policias haviam chegado, e para alivio de Marcos, talvez, ele entendesse o que aconteceu ali.
Após os policias mexeram nos bolsos da calça e da camisa do morto, encontraram documentos de identidade e um número de telefone.  Constataram que ele se chamava Jorge e era um oficial de justiça, tinha um mandato judicial em nome de Marcos relativo à pensão em atraso de sua ex-mulher. Com a chegada da polícia técnica, previamente, constatou-se que o defunto tivera um enfarto fulminante.
Marcos não sabia se chorava ou se ria com as informações recebidas, pois, não havia nenhum vínculo entre ele e o morto. Mas ser encontrado pela ex-mulher era tudo o que ele não queria.
Afinal, o inferno estava apenas começando.

Célia Cristina Gonzales de Almeida


PRESO POR ENGANO

     Alexandre dormia serenamente, o frio naquela época do ano era rigoroso, pela janela dava para observar a brisa suave do vento soprando do lado de fora. Os redemoinhos inquietantes arrastavam alguns papéis nas ruas, ora pra lá, ora pra cá, num vai e vem tresloucado.
     Na noite anterior Alexandre assistiu a um filme e tinha ido para a cama muito tarde.
     O relógio desperta,  Alexandre abre os olhos com dificuldade, desliga-o e fecha os olhos novamente para dormir mais 10 minutinhos, desta vez o celular toca, ele dá um pulo da cama, consulta o relógio novamente e abre a janela do quarto:
     - Uh! Que frio!
     Fecha novamente e por um vão observa um aglomerado de pessoas em meio a uma provável confusão:
     - Nossa! Briga a essa hora da manhã e num frio desses...
     Fecha a janela e vai ao banheiro, enquanto escova os dentes ouve a campainha tocar, lava o rosto rapidamente e tenta adivinhar quem seria a possível visita às seis horas da manhã. Enxuga o rosto às pressas, sai do banheiro e caminha até a porta. Mal sabia ele que algo muito ruim estava prestes a acontecer.
     Ao abrir a porta um frio cortante e gélido inunda o interior da sala, Alexandre sente um arrepio estremecer seu corpo. De súbito olhou até no chão ao procurar sua visita, se deparou com um homem caído na soleira de sua porta.
     Alexandre sente novamente um arrepio, desta vez de medo, sentiu suas pernas bambearem, segurou firme no batente da porta. De repente sentiu um frio na espinha, como explicar a origem de um cadáver em sua porta.
     Olhou ao redor, a multidão havia desaparecido, não havia mais ninguém na rua, a não ser dois cachorros que latiam incansavelmente. Será que alguém na multidão havia matado uma pessoa e colocado na sua porta? Nosso corajoso rapaz abaixa-se para certificar as suas suspeitas, toca seus dedos no homem, sente o corpo frio e rígido, constata que realmente é um cadáver.
     Alexandre se desespera, sua primeira atitude foi correr para o telefone e discar o número da central de polícia, pediu para a atendente que enviasse uma viatura até sua casa na Rua Comendador Araújo que havia um corpo em frente o número 28.
     Quando a polícia chegou, um dos policiais foi checar o falecido e os outros dois foram ter com Alexandre que estava do lado de dentro da porta. Neste exato momento chega a mãe de Alexandre apavorada.
     - Cristo! O que você fez filho ingrato?
     - Mãe, eu não fiz nada, esse corpo apareceu na minha porta.
     - Eu sabia! Quando você foi embora de casa só podia estar aprontando.
     - Mão eu já disse, não tenho nada com isso!
     - Eu tolerei todas as suas loucuras, mas assassinato não tem perdão.
     Um dos policiais interrompeu a discussão.
     - O que você tem a dizer a seu favor cidadão?
     - Policial eu não sei de nada, esse corpo apareceu na minha porta hoje pela manhã.
     - Você mantinha algum relacionamento com a vítima?
     Nesse momento a mãe de Alexandre interpretou mal o ocorrido e sem se dar conta da encreca que estava colocando o filho deu-lhe um tapa bem forte e disse:
     - Meu Deus que desgosto! Alexandre Henrique você gosta de homem?
     - Mãe não é nada disso, eu não conheço esse homem, foi um acidente.
     O policial que estava observando o corpo inerte levantou-se e disse:
     - Acidente? Então você é namorado da vítima e viu o que aconteceu?
     - Não! Eu já disse que esse corpo amanheceu na minha porta, eu não vi absolutamente nada!
     - O senhor está ficando nervoso, por favor, queira nos acompanhar até a delegacia para prestar depoimento, precisamos apurar os fatos.

Cleide Rodrigues Pacheco



O ATENDENTE


          Um fio de sol, através da cortina entreaberta, cortava o quarto e atingia-lhe o rosto em cheio. Abre os olhos, franze a testa e demora a entender onde está.  Não se lembrava de como chegou até o quarto. O relógio marcava 7 horas em ponto, mas não havia despertado como de costume. Com certeza, esquecera de acertá-lo antes de dormir. O corpo inerte e dolorido, ainda sonolento.
          O dia anterior tinha sido bastante agitado, culminando com o caminho de volta para casa, o trânsito infernal e uma cena trágica, típica da violência urbana: atropelamento com duas vítimas fatais, cujo motorista estava embriagado. A vida se resumia a sobreviver e morrer na cidade grande. No recesso do lar, os acontecimentos do dia acendiam e apagavam como flashes. A última recordação de si mesmo, naquela noite, tinha sido o sofá, onde se acomodara para assistir à televisão e esvaziar a mente, com uma tigela de pipoca do lado. O filme já era seu velho conhecido, uma comédia leve para desanuviar.
          De qualquer forma, conseguira adormecer lá pelas tantas e agora estava na hora de enfrentar novamente o cotidiano. Mas já? Coça a nuca e constata que, em menos de uma hora, precisava chegar à repartição para mais um dia da mesmice que justificava o seu contracheque de funcionário público. Antes disso, haveria outro enfrentamento: o espelho. Nada fácil conciliar as mechas revoltosas dos cabelos. No banheiro, enquanto fazia a higiene pessoal básica, teve a impressão de ouvir a campainha da porta, que naquela manhã, soou-lhe esquisita. Acabou de lavar o rosto, ainda com a toalha nas mãos, ouviu novamente o barulho “é a campainha”, teve certeza. Quem poderia ser a essa hora da manhã? Nunca recebia visitas. Morava no prédio há poucos meses e nem conhecia de fato os seus vizinhos. Sabia que a mulher do 702 gostava de música clássica e até arriscava algumas notas ao piano. O senhor do 704 tossia e pigarreava muito, além de brigar vez por outra com  os “anjinhos” do  701, dois moleques endiabrados de seus oito e nove anos, que viviam a perturbar  os moradores. Os pais? Nunca tinha visto, talvez nem existissem, a julgar pelo comportamento dos pirralhos.
           Vai até a porta e volta para pegar a chave na estante. Olha pelo olho mágico, mas não vê coisa alguma. Na certa, tocaram a campainha e saíram correndo. Ah, esses moleques! Pensou em não abrir, mas resolveu ver se conseguia surpreender os danadinhos. Abriu e levou um baita susto. Deparou-se com o inusitado: havia um homem seminu caído à porta de seu apartamento. Teve a reação que todo bom cristão teria nesse momento. Abaixou-se, imediatamente para averiguar mais de perto o caso, saber se a criatura tinha algum reflexo, se respirava, se estava viva ou morta. Reparou no semblante da “possível” vítima e achou que era um tanto familiar, parecia conhecer, mas de onde? Percebeu que não havia sinais vitais e constatou que o conhecido estava morto, a julgar também pela temperatura do corpo, os lábios arroxeados e a pele muito pálida. Mas o que teria sucedido? Por que o teriam colocado em sua porta? Pensou em arrastar o corpo para dentro da sala, mas considerou que a sua compleição física contrastava com a do falecido e que este não teria condições de ajudá-lo nessa hercúlea tarefa. Deixou a porta entreaberta e correu ao telefone para pedir ajuda:
          - Alô, bom dia! É da central de polícia?
          - Positivo.
          - Sabe? Como posso dizer? Eu...
          - Se o senhor não sabe dizer, por que ligou? Eu é que não sei o sucedido, cidadão!
          - Então, pois é. O que eu estou querendo dizer é que...
          - Diga logo, que não tenho a manhã inteira para atendê-lo, senhor!
          - Está bem, está bem. Eu abri a porta do meu apartamento e encontrei um homem caído...
          - Só isso? Ajude-o a se levantar.
          - Acontece que o homem está morto!
          - O senhor tem certeza? Conversou com ele?
          - Claro! Tentei reanimá-lo, sem sucesso.
          - A que horas aconteceu o homicídio? Tem testemunhas? Sabe quem o matou?
          - Não, claro que não! Não sei o que aconteceu! Apenas o encontrei e preciso de ajuda para...
          - Isto aqui é uma central de polícia e não um necrotério! Também não faz velório e nem enterro.
          - Eu sei que não. Preciso que a polícia  venha cuidar do caso e...
          - Que caso, cidadão? O senhor nem sabe o que aconteceu? O corpo está aí e a polícia não tem nada com isso! Está querendo se livrar do problema?
          - Mas, o senhor não está entendendo a gravidade do fato? O problema não é meu! Deixaram aqui na minha porta!
          - Não coloque a culpa nos outros!
          A conversa estava ficando cada vez mais difícil. Tudo o que falava era mal interpretado pelo atendente da polícia. Estava vendo que seria julgado e condenado, via telefone, pelo “crime”. Ocorreu-lhe perguntar com quem estava falando, pois não acreditava que a criatura do outro lado da linha fosse um atendente. Parecia mais um caso de trote às avessas. Resolveu tentar o diálogo outra vez:
          - Meu amigo, eu liguei para comunicar uma morte, apenas isto. Preciso de um perito, de alguém que entenda do assunto, pois sei que nesses casos não  se pode mexer no corpo antes que a polícia técnica faça a perícia, entendeu?
          - Entendi, mas não concordo com a sua postura!
          - Mas afinal, quem está falando? O senhor trabalha aí, como atendente?
          - Meu nome é Hortêmio do Espírito Santo. Não trabalho aqui, não. Vim fazer uma reclamação e o telefone tocou, como não havia ninguém para atender, pois estão todos ocupados, resolvi dar uma mãozinha. Agora que eu já ajudei, tenha um bom dia. Passar bem.
          - Mas...
          - Tum, tum, tum...

Deise Cristina Siqueli

Fernandópolis, 24 de abril de 2012.




sábado, 28 de abril de 2012

DEPOIMENTOS DE LEITURA E ESCRITA

LIVROS INESQUECÍVEIS

Meu primeiro contato com a leitura foi mágico. Na escola onde estudei tinha bons professores e uma biblioteca encantadora. Nunca me esqueço daquele cheirinho dos livros velhos e novos. O livro inesquecível foi Maria- vai- com- as- outras, Sylvia Orthof. Na adolescência era O caso da borboleta Atíria, li nem sei quantas vezes, todas sentindo a mesma aflição pelo defeito da asinha de Atíria, a curiosidade para saber quem estava matando as borboletas da floresta. O outro marcante na época de colegial, Dom Casmurro, quando li fiquei encantada e foi esse livro que me fez cursar Letras. Acredito que meus pais embora não tinham o hábito à leitura, me incentivaram muito. Pais devem incentivar a criança a ler, com isso estimula a comunicação entre eles. Bom essa foi minha experiência como leitora.

Depoimento de Camila Aparecida da Costa



LER É VIVER
Na minha adolescência passei a participar de diversos movimentos estudantis e com isso tive contato com pessoas de várias tendências políticas e artísticas. Esse encontro com esse pessoal foi abrindo um mundo de informações e conhecimentos que no curso técnico que eu fazia não havia essa possibilidade. Aprendi a gostar de Pablo Neruda, lendo o seu livro Confesso que Vivi, depois foi Gabeira com O que é isso companheiro, De olho nas penas de Ana Maria Machado, a Revolução dos bichos, Admirável Mundo Novo e tantos outros. Lembro-me de ter dado muita risada dentro de um ônibus coletivo ao ler Dom Quixote, e as pessoas olhando curiosas para o livro que estava em minhas mãos. Ler é viver tantas vidas possíveis, mesmo por uns instantes É querer chegar rápido ao fim da história e sentir saudades quando ela acaba.
Depoimento de Célia Cristina Gonzales de Almeida
A MÁGICA DA LEITURA
Ler é uma tarefa mágica, com a leitura abrem-se as portas para a imaginação, tornando possível a realização de sonhos inimagináveis, a descoberta de culturas diversificadas, o encantamento dos sentimentos e a troca de saberes e experiências. Encantei-me com o relato de Marilena Chauí que afirma que o livro abre portas para um mundo novo, foi exatamente o que aconteceu comigo na infância, morava no interior de Minas e logo cedo fui introduzida no mundo da leitura que despertou em mim um novo olhar e uma nova maneira de pensar, com “Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias” de Ruth Rocha, percebi que poderia criar palavras novas e compreender o sentido da amizade com “A Turma do Pererê” de Ziraldo. Já na adolescência no Litoral de São Paulo, fui novamente levada por uma amiga a conhecer e amar “Feliz ano velho” de Marcelo Rubens Paiva e “O mundo de Sofia” de Jostein Gaarder, que   desencadeou novamente a mesma paixão pela leitura que não quero me distanciar jamais.
Depoimento de Cleide Rodrigues Pacheco

LEITURA: UMA TRAJETÓRIA DE VIDA


Meus pais sempre foram leitores, apesar da pouca escolarização. Era frequente vê-los saboreando livros e revistas. Assim, também segui o bom exemplo. Queria saber o que estava escrito nas páginas coloridas das revistas que circulavam pela casa. Porém, nenhum título me inquietou mais, quando meu pai surgiu com um livro de capa dura e escura, com letras douradas. Perguntei-lhe qual o nome da história e ele me respondeu: Os Miseráveis. Já tinha uma noção do que era a miséria e, portanto, não me conformava com o título. Não podia ser uma história de princesa com final feliz. Muitos anos depois, tive a constatação de que não era mesmo, muito pelo contrário, todavia é uma grande história, uma das melhores que já li. No meu universo de criança, brincava de juntar letras, desenhar palavras e “escrever” livros com muitos personagens reais e fictícios. Minhas histórias eram fantásticas. Fui para a escola aos seis anos praticamente alfabetizada. Lembro-me que a biblioteca era ambulante, ou seja, uma perua Kombi abarrotada de livros parava à porta da escola uma vez por semana e as professoras organizavam os alunos para a devolução e retirada de livros. O primeiro livro que retirei para ler foi “Histórias da Carochinha”, no qual havia a história da Dª. Barata, que queria se casar. No mesmo ano, houve a tradicional Festa de Entrega do Primeiro Livro, em que recebi a obra “O Poço do Visconde”, de Monteiro Lobato. Esse livro acompanhou-me até os primeiros anos de exercício no magistério, na cidade de Matão, quando resolvi doá-lo à biblioteca, que estávamos formando na escola.
Depoimento de Deise Cristina Siqueli



Olá ! Lendo esses depoimentos também relembrei a minha adolescência , as minhas primeiras leituras. O primeiro livro indicado pela minha professora de lingua portuguesa foi A Ilha Perdida. Senti saudades...


Depoimento de Jucele Antonia Machado Tibagy